I
Tenho procurado em alguma distância,
Algum indício da criança que fui...
Dias perdidos em sofrimento e ânsia,
A criança que fui morreu na infância
Dessa distância que não se conclui.
E se tento achá-la em tudo, se insisto,
Bem ao longe ouço um choro infantil...
Lágrimas nos olhos, então não resisto,
A criança ainda vive, mas eu onde existo,
Se esta tola infância nunca existiu.
Devo esquecer-me de tudo...Mas enfim
No que deverei esquecer-me afinal?
Se uma lágrima qualquer na noite sem fim
Acordou a criança que não tive em mim
Buscando a infância que não teve igual.
II
Ás vezes creio que não sou quem penso,
Sequer as coisas que escreva ou sinta...
Mas um mar estranho pequeno e imenso
Que em suas águas, ora calmo, ora tenso,
Carrega os sonhos de uma raça extinta.
E onde às vezes um barco navega à calma
De todas as tardes que habitam o mundo...
E a dor que o tange, refreia e espalma,
É a mesma que há no fundo da alma,
Essa alma que há em todo mar profundo.
Mas não sei qual o elo existe entre nós
Que estranha lembrança tornou-o assim
Eu só sei que este mar é um lobo feroz
E uivando nas noites confuso e a sós
Talvez pra esquecer-se procure por mim.
III
O Inverno não chega, em meu quarto a sós,
Passo um inverno inexistente e sem fim...
As folhas caem lá fora, num pranto algoz,
Sinto sons nessas folhas caindo sem voz,
A voz com que calo tanta coisa em mim.
Choverá por esses dias num pranto sem sentido.
Como sinto chover uma chuva que não cai?
Choverá? Sei lá eu já há tanto tem chovido,
Que a chuva que penso não é chuva é um ruído,
E vem do silêncio da lembrança de meu pai.
Há sons... Não há sons, um vazio me invade,
Faz um frio imaginário... não sei se minto
O que sei é que estou só e a as luzes da cidade
Fingem também sentir essa estranha saudade,
Da provável lembrança que não sei e sinto.
Marcus Di Philippi
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
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